segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Árvore Genealógica Moderna!




- Mãe, vou casar!

- Jura, meu filho?!

Estou tão feliz! Quem é a moça?

- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Julio.

- Você falou Julio?... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?

- Eu falei Julio. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?

- Nada, não... Só minha visão é que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.

- Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...

- Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso...

- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea.

- E quando eu vou conhecer o meu... A minha... O Julio?

- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.

- Tá! Biscoito... Já gostei dele. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?

- Por quê?

- Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.

- Você acha que o papai não vai aceitar?

- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas, isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metades com pinto...

- Mãe, que besteira... hoje em dia... Praticamente todos os meus amigos são gays.

- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.

- A Bel já tá namorando.- A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?

- Uma tal de Veruska.

- Como?

- Veruska...

- Ah, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
- Mãe!!!

- Tá..., Tá..., Tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...

- Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?

- Quando ele era hétero. A Veruska.

- Que Veruska?

- Namorada da Bel...

- Peraí!. A ex-namorada do teu atual namorado... É a atual namorada da tua irmã... Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...

- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.

- De quem?

- Da Bel.

- Logo da Bel?! Quer dizer, então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska?!?...

- Isso.

- Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.

- Em termos...

- A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.

- Por aí...

- Por outro lado, a Bel..., Além de mãe, é tia... Ou tio...Porque é tua irmã.

- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.

- Só trocar, né? Agora, o óvulo vai ser da Bel. E o ventre, da Veruska.

- Exato.

- Agora, eu entendi! Agora eu realmente entendi...

- Entendeu o quê?

- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!

- Que swing, mãe?!!...

- É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora do útero de uma, outra hora no útero de outra...

- Mas...

- Mas, uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior...Com incesto no meio.

- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...

- Sei... E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos.

- Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...

- Que...?

- Fazer árvore genealógica daqui pra frente... Vai ser uma merda!


(Luiz Fernando Veríssimo)

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